Fera é um labrador mestiço muito companheiro, que adora quando saio de bicicleta. Mal pego a bicicleta e ele já está ao meu lado, pronto para me acompanhar. Fera aprendeu a correr ao lado da bicicleta, sem ficar com medo ou se distraindo com outros cães ou acontecimentos na rua. Mesmo quando pedalo rápido, indo a quase 20 km/h, ele continua grudado ao meu lado!
Certo dia, ao retornarmos do passeio, antes do portão se fechar, Fera e a cadela anciã da casa ficaram na rua. A labradora velhinha tem dificuldade de locomoção, anda bem devagar, mas a alegria dela é dar uma voltinha na calçada. Deixei.
Dali a uma hora, tocou a campainha de casa.
— Este cão mora aqui? — perguntou o sujeito ao lado do Fera.
— Sim! É o Fera! — respondi, abrindo o portão.
— Esperto este seu cão — observou o moço. — Ele estava na rua de baixo, acompanhando uma cachorra velhinha. Não saía do lado dela, notei que cuidava dela, mas estava aflito. A velhinha não conseguia caminhar direito. Perguntei a ele onde era a casa dele e ele imediatamente saiu correndo e me trouxe até aqui!
O moço estava muito impressionado de o cão ter compreendido sua pergunta e intenção de ajudar. Além do mais, quantos humanos, seres ditos “racionais”, têm um coração como o do Fera?
Fui buscar a labradora velhinha e o homem foi embora, refletindo sobre o modo como tratava os animais. Cuidava bem dos domésticos, mas e da vaca, do boi, do bezerro, da cabra, do cabrito, do porco, do cordeiro, da galinha, da baleia...? Estes últimos não eram tão diferentes do Fera, também tinham sentimentos, sofriam, entendiam e quem sabe até tivessem uma percepção bem mais apurada do que a dos humanos!
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